Victor Mansure já está há cinco 5 anos no Canadá quando se transferiu juntamente com seus pais para uma nova vida, Victor se formou em Educação Física, teve de abandonar o Basquete como jogador por lesões no joelho que foram enfraquecendo o ex- jogador. Mansure que jogou nas seleções brasileiras de base chegou até a abrir mão de ir ao colégio quando estava no 2º grau para poder treinar 5 horas por dia na esperança de encurtar o caminho para a Europa e até para a NBA. Victor acabou trocando o papel de jogador para o de técnico, mas de uma equipe pra lá de especial, teve de aprender uma linguagem nova, a primeira chance de trabalho para Victor foi com um time de meninos surdos em Montreal, após três anos, Victor, é o novo técnico da seleção nacional, mas ainda continua aprendendo a interpretar os sinais.
“Na casa da minha avó, em Teresópolis, fomos criados com a Cirlene, que trabalha lá e é surda. Mas a comunicação sempre foi através de gestos e mímicas. Até então tinha sido meu único contato com alguém que não podia ouvir. Aqui no Canadá, apareceu a chance no centro comunitário para trabalhar com crianças surdas. Resolvi pegar. No primeiro treino tinha um interprete ao meu lado. Mas fiquei pensando de como seria se um dia ele faltasse. Aprendi uma palavra, que virou um sinal e outra, e outra e foi melhorando. É difícil de entender porque não tem palavra para tudo. Acaba sendo interpretação e como aqui metade do time fala inglês e a outra, francês, há diferenças de sinais de país para país. Para completar, chegou um menino novo que veio da Mongólia”. Disse Mansure.
O técnico, por exemplo, não pode se movimentar durante o jogo na lateral da quadra para que seus comandados possam olhar e se comunicar com ele. Nem sempre todos se entendem, mas a paciência e o respeito fazem tudo se encaixar. A convivência tornou Victor Mansure uma pessoa ainda mais tolerante e fez seus jogadores mais confiantes. Victor recebeu no dia de seu casamento uma bola autografada por todos. Guarda como um troféu.
“É o grupo mais unido que tive na vida, não quero largar por nada, ás vezes você pensa em ganhar muito dinheiro, mas seu chefe é ruim, e o grupo é chato. Eles viraram família muitos não conseguem arrumar emprego tão facilmente e vivem às custas do governo, a gente tem que arrumar tênis para eles, por exemplo. Eu busco apoio na Confederação e também bato nas portas para conseguir as coisas, agora estou atrás de dinheiro para irmos ao Mundial de Palermo neste ano. A Associação só cobre 15% do custo da viagem. Os Estados Unidos têm um time forte, a Lituânia também, mas os outros estão no mesmo nível”. Complementa Victor.
Na seleção de Mansure estão jogadores entre 16 e 35 anos quase todos são fãs de Kobe Bryant, Kevin Garnett e Lebron James só que a inspiração de todos vem de um jogador esloveno, que ultrapassou todas as barreiras e conquistou um lugar na equipe da Eslovênia que disputou o Mundial da Turquia, Miha Zupan que ficou preocupado como seria recebido por seus companheiros que podiam escutar e ele não. Zupan ganhou confiança quando todos apostaram em seu potencial e para render mais passou a usar aparelhos auditivos. Em dezembro foi eleito o melhor atleta surdo do mundo.
“Ele tem uma influência grande e é uma inspiração para os meninos, foi uma façanha chegar aonde ele chegou ainda mais com a dificuldade de comunicação. Teve de abrir os outros sentidos para suprir o problema, houve também na NBA um jogador que treinou na NBA, mas depois foi dispensado (Lance Allred). Tenho no time um menino de 16 anos e 2,00m ele é muito bom de bola e no Mundial sub-21 da Polônia foi o melhor na média de tocos e segundo nos rebotes. Quando chegou não sabia nem mastigar chiclete e correr ao mesmo tempo, agora acho que tem chances de chegar longe, quem sabe como Zupan”. Comenta Victor.
Se ainda não joga com companheiros que podem ouvir, a promessa canadense já atua contra adversários que conseguem escutar e atuam na liga semiprofissional de Montreal. Quase sempre a equipe do Quebec é derrotada, mas nunca sem luta.
“Ainda tem um certo preconceito, as pessoas pensam: "São surdos, vamos ganhar de qualquer forma", mas depois que o jogo começa e eles vêem que é a verdade, fica tudo no mesmo nível. É uma liga bem forte, na última partida os jogadores do time adversário vieram nos perguntar se poderiam usar um algodão ou algo no ouvido para jogar na mesma condição numa próxima vez, foi um gesto bonito. Nós ganhamos um amistoso importante contra o time de vôlei da McGill, atlético, que se arriscou no basquete e acabou perdendo”. Contou Mansure.
Victor Mansure aos 27 anos já consegue acompanhar o basquete sem a tristeza de antes, já consegue ver Tiago Splitter e outros ex- companheiros de seleção de base em ação com saudade da convivência, mas não mais com a sensação de que poderia ter seguido o mesmo caminho. Victor encontrou seu caminho e sabe onde quer chegar.
“A vida é assim. A gente traça um caminho e aí tem um cruzamento. Eu treinava 4, 5 horas por dia com o Duda (ala-armador do Flamengo) nos tempos de Fluminense, cheguei a parar no 2º Grau do colégio para isso. O joelho me fez tomar outro rumo. Eu queria ser técnico um dia, só que achava que isso aconteceria aos 40. Quando voltar ao Brasil vou estar com experiência. Demorei a digerir a decisão de ter de parar de jogar e hoje vejo que faria tudo de novo”. Finaliza Victor Mansure.
Nenhum comentário:
Postar um comentário